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Poeta catarinense
com dedos podres
e mania de flâneur

Autor de "Cá Entre Nós -
Odes de Alusão e Ilusão"

INCLUSÃO DIGITAL

Sai da toca, ninfa.
De onde vem essa mania de defunto?
Não sei, já lavei as mãos.
Dá licença: o hermetismo me conduzia.
Com você? Eu também.
Que coincidência.
Bem, tenho escrito. Este tempo todo.
Eu nem sei de que estou falando.
Mas pensa numa romaria.
Pensa num caminho esquisito.
Frases duplicadas com estilo.
O excesso dentro do excesso.
Só o de sempre e nada mais.
Pensa na crítica especializada.
Ter acordado tarde para o mundo.
Vou me abrir, vamos lá.
Estou mudando os meus temas.
Daqui por diante só as coisas inconcebíveis.
O efêmero, o supérfluo e o descartável.
Estou atrás de um sentido mais imediato.
Mais atuante. Mais universal.
Tenho contatos em cada país do mundo.
Quero que os moços do Japão entendam
sem que eu precise me aprofundar muito.
E que as senhoras da Malásia se conectem
com os meus dramas.
Uma compreensão maior.
Uma linguagem mais definitiva?
A salvação está num balde de ayahuasca.
Naturalmente.
A salvação está no tai chi chuan.
Que interessante.
É isto. Encontrei a fórmula.
A salvação está nas rodas de quizomba.
E alimentação orgânica.
Experimente:
tenras berinjelas, gordos jenipapos,
três a quatro vezes ao dia.
Quem é que não quer ser salvo?
De acordo com pesquisas, noventa por cento dos entrevistados
não saberiam dizer sequer do que se tratava a entrevista.
A salvação é o seguinte: salve-se quem puder.
Ninguém sobreviveu.
Mas não espalha.
Lá na minha terra a gente aprende desde cedo.
Engolir tudo sem dizer um ai.
Em boca lacrada de sul-americano não entra mosquito algum.
O avô tá bonzinho? Ou está naquelas?
Está naquelas. Deixei de acreditar no tempo.
Aqueles calhamaços que você tanto lê, etc.
Este é o ano de dois mil e quinze.
Não me pergunta.
Já parei.