Aprendo sobre as coisas só depois
de viver o contrário delas.
Descubro sobre o perdão só depois
de eu próprio ter sido muitíssimo cruel.
Só conheço a compaixão após anos e anos
de descaso para com tudo.
E descubro-me humano bem depois
de certas vaidades haverem me engolido.
Em mim habita todo o bem
e todo o mal deste mundo.
Em exatas medidas que se coadunam.
Como algo irrespondível
que fingi e deixei por dizer.
Em mim toda a vileza e toda a realeza.
Total escória mas em vias de redenção.
Total escória mas em vias de redenção.
Sou o melhor
e o pior de todos
em tudo o que faço.
Mesmo que tormenta.
Ainda quando mansidão.
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Teço minha bandeira.
A metade branca é cheia de si.
A metade negra é inconsolável.
E hasteio-a aos mortos em vida.
Aqueles, que as ondas levaram
Aqueles, que as ondas levaram
notícias.
Os fantasmas do pensamento
que nunca descansam.
Que descansem,
agora.
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Aprendo sobre as coisas
só depois de perdê-las por completo.
Dantes não poderia supor
quanta falta me fariam.
Enfastiado que estava
de tanta e tamanha presença.
Que deixava de senti-las por perto.
As coisas. E sentia-as melhor
na distância.
Dantes não poderia dizer
o quanto é que me tocavam.
E se de fato tocavam ou não, não saberia.
De tão enfadado pensava-me.
Quando as vejo ir ao longe
é como se as visse pela primeira vez.
Quando por fim constato que se foram
é como se finalmente as visse.
Aprendo sobre as coisas
no momento em que as quero de volta.
Tarde, entretanto,
para reavê-las.