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Poeta catarinense
com dedos podres
e mania de flâneur

Autor de "Cá Entre Nós -
Odes de Alusão e Ilusão"
Aprendo sobre as coisas só depois
de viver o contrário delas.

Descubro sobre o perdão só depois
de eu próprio ter sido muitíssimo cruel.

Só conheço a compaixão após anos e anos
de descaso para com tudo.

E descubro-me humano bem depois
de certas vaidades haverem me engolido.

Em mim habita todo o bem
e todo o mal deste mundo.
Em exatas medidas que se coadunam.

Como algo irrespondível
que fingi e deixei por dizer.

Em mim toda a vileza e toda a realeza.
Total escória mas em vias de redenção.

Sou o melhor 
e o pior de todos
em tudo o que faço.

Mesmo que tormenta.
Ainda quando mansidão.



___


Teço minha bandeira.
A metade branca é cheia de si.
A metade negra é inconsolável.
E hasteio-a aos mortos em vida.
Aqueles, que as ondas levaram
e de que o vento não sabe mais
notícias.

Os fantasmas do pensamento
que nunca descansam.
Que descansem,
agora.


___


Aprendo sobre as coisas
só depois de perdê-las por completo.

Dantes não poderia supor
quanta falta me fariam.

Enfastiado que estava
de tanta e tamanha presença.

Que deixava de senti-las por perto.
As coisas. E sentia-as melhor
na distância.

Dantes não poderia dizer
o quanto é que me tocavam.

E se de fato tocavam ou não, não saberia.
De tão enfadado pensava-me.

Quando as vejo ir ao longe
é como se as visse pela primeira vez.

Quando por fim constato que se foram
é como se finalmente as visse.

Aprendo sobre as coisas
no momento em que as quero de volta.

Tarde, entretanto,
para reavê-las.