Desdobro as mangas dos ritos
e penetro a fundo neste umbral.
Conheço-o bem.
Já estive aqui.
Percorro os corredores
à meia-luz de velas negras.
Da consciência de estar sendo
o axioma incomunicável.
O próprio peito riscado à faca.
Existo,
e por isto não existe o nada.
Só um enrolamento e um
desenrolamento.
Sucessivos e indefinidos,
simultâneos e perpétuos,
espirais que giram de encontro
ao seu próprio contrário.
O vazio inexiste.
Tudo aqui está ocupado.
O infinito fala de si a si mesmo,
e tem tanta cor a memória.
Quer seja no fixo ou no volátil,
no visível ou no invisível:
a águia, o leão,
o touro e o homem
o touro e o homem
andam pelos mesmos caminhos.
O que está em cima parece
ou é igual ao que está debaixo.
Como é que me atrevo
a recitar em voz alta estes
segredos?
O quão tolo e incauto pareço?
Se não sou, ainda, um iniciado.
Por ora sei de pouco.
Mas fui convocado a saber
de tudo. Reunir-me
para só então
para só então
expandir-me.
Desafiar a lógica obscura;
Confrontar a áspide sibilante;
Confundir a roda do destino;
E elaborar um novo ritual.
Serei a taça e a adaga.
Serei o sino e o cinzel.
Serei o próprio hierofante.
Esta noite, serei o altar.