O JÚRI
DELIBEROU:
IMPÁVIDA IGNORÂNCIA
Sim, estou certo de que adormeci
DELIBEROU:
IMPÁVIDA IGNORÂNCIA
Sim, estou certo de que adormeci
enquanto anotava alguns auspícios.
E lá estava a mesma serpente. Aquela,
com cabeça de leão. Estática entre duas
meias-luas de bronze, fitava-me enquanto
mordiscava a lâmina de uma espada. Sibilava
em silêncio. A língua perversa a auscultar tudo.
Eu tremia da cabeça aos pés. Mas uma seta vinha
rasgar o silêncio. O guincho de uma águia próxima.
Um pentáculo desprendia-se das garras da águia e caía
bem entre as coxas dum velho coxo. Outra seta. Não pude
conter-me. Não era, afinal, a primeira das vezes. Tomado de
euforia, agarrei a serpente pelo rabo e girei-a no ar. Meti a mão
entre as coxas do ermitão e apertei com força. Ele gritava, gritava,
o pobre infeliz. A serpente deslizava até mim e se enrolava em meu
tornozelo. Eu tentava desvencilhar-me coiceando o ar com veemência.
Atraída pelo movimento, vinha a águia e punha-se a pairar sobre a cena
como algum deus rubicundo de raiva e com cara de pouquíssimos amigos.
Sensação de já ter visto tudo aquilo antes, só que de um outro ângulo, sentado
em meio à platéia ou atento por detrás dos bastidores. Aí então subitamente
compreendi: era como se um grande julgamento estivesse a acontecer ali.
Sentia-me como se desvendasse algum tipo de segredo e buscasse a
em meio à platéia ou atento por detrás dos bastidores. Aí então subitamente
compreendi: era como se um grande julgamento estivesse a acontecer ali.
Sentia-me como se desvendasse algum tipo de segredo e buscasse a
a palavra exata para uma lacuna num gigantesco poema cifrado.
Mas atenhamos-nos aos fatos. O ermitão representaria
a lide em questão. A serpente, a intenção por detrás.
Mas atenhamos-nos aos fatos. O ermitão representaria
a lide em questão. A serpente, a intenção por detrás.
Todo o impulso destrutivo de uma natureza
rastejante, prostrada ali bem ao meio
de duas verdades opostas. Onde as
setas seriam os prenúncios
necessários entre
rastejante, prostrada ali bem ao meio
de duas verdades opostas. Onde as
setas seriam os prenúncios
necessários entre
um rito e outro.